sábado, 29 de novembro de 2008

O TEATRO CURA?
Em um “ensaio corrido” de OS BANDIDOS, uns quinze dias depois do início da montagem da peça, eu entendi porque estava fazendo este texto. Ele é um purgante: uma bebida de sabor desagradável que ajuda a expelir o que nos prende e que de nós deve sair.
Tenho desde que sei de mim, um intestino preguiçoso, que ajudo a funcionar melhor através de massagens e muita fibra no café da manhã.
Pois desde o dia em que entendi que OS BANDIDOS era um purgante, meu intestino passou a funcionar quase que cotidianamente. Tanto que, hoje sei que quando vou para o Teatro fazer KOSMOS, meu personagem nesta peça, eu sei que vou me aliviar do que de mim precisa sair. Mas tudo isto é ajudado também pelo fato de que nesta peça eu interpreto um dos tipos mais “enfezados” que conheço. Um homem que quer reter pra si o mundo todo, que não quer dar passagem a nada. Acredito, portanto, que estou vivendo um movimento compensatório. Tudo que em mim, KOSMOS retêm, o meu intestino manda embora.
Oxalá KOSMOS deixe nas minhas entranhas esta lição!
Que eu saiba expelir o que tem que sair!
Viva a Encarnação-Teatro!
MERDA!
Aury Porto
São Paulo, 27 de novembro de 2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

a irreverência de nossos técnicos-atores

Ricardo Moranez, Renato Banti, Lúcia Ramos, Daniel Camilo e Jair Molina Jr.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

sábado, 1 de novembro de 2008

Dionisio, 50 anos

por Rodrigo Dionisio, do blog http://hajasaco.zip.net

DIONISIO, 50 ANOS

Não é pseudônimo. É sobrenome, trazido com meu avô, retirante de Pernambuco, assim mesmo, sem acento. E estávamos lá, em presença física ou espiritual, Dionisio, Artaud, Rocha, Monteiro, Buarque, Becker, Pandolfi, Nachtergaele, Brecht, Mello e, claro, Martinez Corrêa. Lá no teatro Oficina, em sua comemoração de 50 anos de existência, na terça-feira passada. Começou por volta das 21h45, tive de sair umas 3h30 da quarta. A festa continuou, até 6h30, fiquei sabendo. Pareceu só terem passado 10, 15 minutos. Foram encenados trechos das principais montagens do grupo, bebeu-se vinho, se improvisou, muito. Atuações exageradas, dança, cacos, intimismo, imaginação, pouco a ainda ser mostrado, áudio, vídeo, céu.

A melhor palavra para descrever o que foi visto é anacrônico. E isso pode ser crítica e elogio. Zé Celso e sua companhia pregam coisas fora deste tempo. De piadinhas com artistas "vendidos" (talvez irônicas para a trupe, mas levadas a sério por parte de seu público, que gritava impropérios contra a TV Globo durante aparição surpresa de Matheus Nachtergaele) a um espírito aparentemente enterrado na cultura nacional. Cultura dionisíaca, do gozo, mas não do egoísmo. O verdadeiro tesão vem em grupo, e o Oficina mostra-se generoso, prega o olhar para o outro, o respeito a quem quer jogar o jogo. Zé Celso bradou, várias vezes, contra o burburinho de conversas nas galerias e do lado de fora: "Isto não é sala de visita! O teatro odeia sala de visita!". A cultura nacional tem se tornado uma grande sala de visita, por culpa de quem faz, mas principalmente de quem assiste.

O Oficina é anárquico, hedonista, sexual e sexualizado. Os corpos nus dos atores inspiraram casais, trios, quartetos que se beijavam ao final oficial do espetáculo, antes de tudo virar pura festa. A menina que quase virou personagem, trocando de parceiros e rolando no chão com eles entre as pernas, às vezes em cena aberta. Sem dúvida outras ações, dos mais tímidos, na volta para casa ou entre quatro paredes. E quem tem um pouco de sensibilidade entende, isso não é exposição fácil, e sim busca de libertação, da divisão para soma, Sodoma, doação. Não vale como contar beijos na boca e encubar sapinho em micaretas. É usar seu corpo para algo especial, mesmo que só dure 30 segundos.

E talvez, e principalmente, tudo naquela terça-feira revelou-se tão anacrônico por causa do público. Quem estava lá na fila, e trocou vinho, flores e frutas pelo ingresso, não parecia com os freqüentadores do Studio SP ou do Espaço Unibanco. Havia até uma linha, seria possível tentar, mas do estudante de publicidade e propaganda à senhora de camisa com estampa de oncinha, do mar de jovens atores e músicos ao bebê que, ao ver sua imagem projetada no telão, mandava beijos (sim, havia crianças na platéia), todos tinham lugar. O Oficina não escolhe público, faz marketing mambembe, acolhe quem quiser ir e ver. Saí de lá trêmulo. Poderia dizer que a culpa era do frio da madrugada, tenho certeza não ser só isso.

Antes do rito, como foi chamado, ainda na fila de entrada, um vídeo-repórter da TV Cultura enfiou a câmera na minha cara e pediu para eu mandar uma mensagem para o Oficina, além de parabéns. Nessas situações, você sempre fala o que vem na cabeça, óbvio e idiota, mas normalmente sincero: "que venham mais 50 e mais 50 anos". Que depois do Zé (o grande pai branco daquele terreiro), se leve a história em frente. Que alguém convença Silvio Santos e os moradores do bairro da possibilidade de uma convivência pacífica. Tudo ali parece fora do tempo, mesmo, e que fique claro, sendo moderno como Tropicália e Mutantes ainda são. Era/É um tempo muito bom. Era/É teatro, mas era/é muito mais. Evoé!

 
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