quarta-feira, 17 de setembro de 2008

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA de Diadorim PRA REVISTA APLAUSO - de PORTO ALEGRE

Essa entrevista dei no dia 14/08.

1. O Teatro Oficina está comemorando 50 anos em 2008.
Como será a comemoração deste aniversário?
Há projetos especiais para este ano?
A estréia de Os Bandidos em Porto Alegre é um deles?

Em 2007, com patrocínio da Petrobrás,
fizemos uma temporada de viagens de Os Sertões pelo Brasil
– chegávamos e construíamos uma réplica do Teatro Oficina.
Éramos 88 pessoas do nosso corpo técnico-artístico,
vivendo dez dias em cada cidade,
trabalhando com crianças e adolescentes locais,
que fariam parte do coro dos Sertões
e todos os previstos e imprevistos que surgem nessa empreitada…
Nosso quinto e último porto do ano foi Canudos, em dezembro.
Em nosso Teatro Oficina no sertão tivemos sessões lotadas das cinco peças
e a experiência muito instigante de atuar para um público virgem e sedento de teatro.
Entramos em 2008, ano do cinqüentenário, com vários projetos para comemoração:
uma grande exposição em São Paulo, outra no Rio,
a digitalização de nosso arquivo,
publicação de livros,
a estréia de Bandidos…
Mas o andamento de vários processos burocráticos de nossos projetos foi muito lento,
o que fez com que o dinheiro de patrocínio só chegasse no começo de julho.
Isso criou outra situação na companhia.
Em fevereiro começamos a fazer vários mutirões
pra produzir sem depender da desburocratização financeira:
colocamos Vento Forte pra um Papagaio Subir em cartaz;
um convite do SESC pra uma leitura de Taniko, peça do nô japonês,
fez com que montássemos a peça
e a colocássemos em cartaz no Oficina;
também encenamos o Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade;
e Cypriano & Chan-ta-lan de Luís Antonio Martinez Correa,
enfim, revertemos a situação e, ao invés de estagnarmos,
produzimos como coelhos,
numa comemoração bem concreta do cinqüentenário
– a prática diária de trabalho artístico de atuação e produção.
Agora vários caminhos da grana já estão abertos
e nós com o corpo treinado e fortalecido pra encarar mais profundamente
a montagem de Bandidos
e os projetos que fizemos no início do ano pra festa dos 50 anos.
Nossa pré-estréia nacional em Porto Alegre é um projeto especial.
Quisemos muito fazer Os Sertões aí.
Todas as cidades que encenamos ano passado
eram cidades-locação do livro de Euclides da Cunha
(Salvador, Rio de Janeiro, Recife, Quixeramobim – CE, onde nasceu Antonio Conselheiro,
e Canudos).
Porto Alegre faltou no nosso roteiro.
Apesar de não ser locação,
os gaúchos foram personagens fundamentais da Guerra de Canudos,
depois que entraram em cena, o exército começou suas vitórias.
Foram os mais fortes protagonistas antagonistas.
E sempre foi um prazer atuar aí,
nossas apresentações de Cacilda! e Boca de Ouro no Porto Alegre em Cena foram fantásticas.

2. Por que a adaptação de Zé Celso Martinez foi feita em em versos?

Porque cada vez mais nosso trabalho é de um teatro que é ópera de carnaval trágicomicoorgiástica,
se aproximando do Rap, que é ritmo e poesia.

3. A musicalização da peça visa aproximá-la do público?

Visa principalmente criar outra comunicação com o público,
que não é psicológica e realista.
O ritmo e a musica na atuação,
na fala
abrem caminho pro entendimento não só com nossas cabeças,
mas, principalmente com nossos corpos.
Eles propiciam um entendimento mais ativo,
que pode provocar transformações mais concretas em quem assiste o espetáculo.

4. Zé Celso Martinez escreveu que esta é a "primeira novela das 8 do OficinaUzynaUzona.
Por que a escolha deste formato folhetinesco?

Nessa adaptação do texto de Schiller,
um dos temas centrais é a fabricação de consciência
que a mídia e as coorporações de TV realizam.
Qual é o papel de uma novela assistida diariamente por milhões de pessoas
num país como o Brasil?
Como essas obram interferem nos valores modernos?
Somos antropófagos.
Estamos usando este formato com outro conteúdo,
pra descobrirmos ou não essas respostas
e pra sermos também antropofagiados.
Um dos pontos fundamentais do Manifesto de Oswald
é a contracenação com o antagonista, sempre!

5. A peça tem uma crítica social forte.
Vocês acreditam que isto seja algo raro no teatro dos dias de hoje?

Tem de tudo no teatro dos dias de hoje, de entretenimento à critica,
o que falta é a retomada do poder do teatro que foi interrompido.
Esse poder é censurado.
Na catalogação de serviços que os cadernos culturais do jornais fazem,
teatro é uma coisa pra ser vista pelo público x ou y,
determinada peça é pra esse grupo, outra é praquele…
Depois de Canudos, pra nós é inevitável abrir o Oficina pra todos os públicos,
o da classe AA, da B, C, D, E.
E pra todos ao mesmo tempo.
Não queremos fazer uma sessão especial pros moradores de rua,
e outra pra estudantes
e mais outra pra elite…
Antes de irmos pra Canudos,
houve uma resistência de um grupo da UNEB,
que dizia que a população de lá não estava preparada
pra receber os espetáculos complexos dos Sertões,
que seriam muito fortes pros moradores daquela cidade.
E foi o contrário.
Foi maravilhoso, lotado, com o público participando, reagindo, vivo!
Canudos está cheio de lanhouses, a internet está deixando a comunicação livre,
é pretensão achar que determinado grupo de pessoas entende ou não um peça de teatro.
É pra geral!!!

Um comentário:

EDU KRAEMER disse...

Acabei de assitir a peça...misto de lucidez com delírio...alegria e tristeza...sonho e aspereza...nostalgia e modernidade...
Num mundo comido pelo capitalismo o teatro não precisa se esconder da grande máquina...a usina gera força motriz para corromper a massificação da idiotização...
Por força divina tive a grande oportunidade de estar por perto...nas cochias deste sonho...e me curvo...me estendo no chão aos pés desta trupe...
Evoé...
Ardor...

 
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