domingo, 21 de setembro de 2008

SE LIGA MALUCO!

Porto Alegre foi do caralho.
A primeira vez que corremos toda a peça,
sem nenhuma parada pra ajustes,
tendo que nos virar caso alguma coisa saísse do programado
foi no nosso primeiro espetáculo, no dia 17.
Antes disso, pelas circunstâncias de tempo e outras adversidades,
em nenhum momento fizemos esse jogo do começo ao fim, direto.
O público foi testemunha dessa primeira experiência desse processo.

Foram 3 espetáculos completamente diferentes.

No primeiro apanhamos bastante do espaço,
da acústica (que melhorou bastante em relação aos ensaios,
com todas as promessas de isolamento cumpridas),
e da própria máquina da peça, inédita pra nós também.
Foi difícil jogar 'aqui e agora' (lá e naquela hora),
e talvez por isso, não aproveitamos o público o quanto poderíamos.
Descobrimos também que o único intervalo programado seria insuficiente.
Muita gente saiu antes dele acontecer e depois também.
A peça é difícil de assistir.

Fizemos os Sertões porque a guerra de Canudos está acontecendo dia a dia,
em todos os cantos do mundo,
na favela aqui da esquina…
Massacres ainda vivos,
que cantamos pra desmassacrar.
Mas se alguém do público,
por dificuldade, alienação, ou o que for,
não quisesse encarar essa atualidade,
se agarrasse no historicismo,
e se programasse pra assistir a encenação de uma guerra
que aconteceu no sertão da Bahia em 1886/87,
e que ele não tinha nada a ver com isso,
apesar dessa possibilidade difícil,
ele poderia sair ileso e ainda gostar dos espetáculos.

Nos Bandidos, a abstração histórica é impossível.
A tradução-adaptação do texto é muito clara,
a história, escrita em 1777
é da hora,
é de agora.

No segundo dia à beira do Guaíba,
quando estávamos mais relaxados,
e demos espaço pro público reagir,
fazer todas as conexões
e revelar coisas ainda obscuras pra nós,
ficou bem claro que essa é uma peça de teatro de estádio.
O público atua o tempo todo, dá sentido,
entra em cena na própria existência.
Quero dizer que é diferente dos espetáculos
em que os espectadores são convidados a entrar na pista,
pra fazer algum papel, ou parte de coros.
Os gaúchos revelaram a protagonização do público na ligação.

Desejo que todos os espetáculos sejam assim.

No terceiro dia aconteceu uma coisa engraçada:
tinha saído uma crítica boa da estréia no jornal Zero Hora,
e parecia que o público tinha lido e estava mais preparado,
esperando as cenas que foram elogiadas,
já gostando de coisas predeterminadas.
Talvez por isso começou um pouco mais difícil do que o segundo dia.
No primeiro intervalo
(fizemos 2 nos dias 18 e 19)
nos ligamos nisso
e entramos no segundo ato com o superobjetivo de quebrar as pré-impressões.
E aí fomos juntos até o fim.

SILVIO SANTOS EM CENA

Todas as matérias de jornal destacam a participação concreta de Silvio Santos nessa peça.
Com Os Bandidos estamos fazendo uma proposta muito concreta pra ele.
Estamos lhe dando o papel de Apolo, e chamando-o pra atuar junto com Dionysio.
Mas o que ainda não foi revelado pela mídia nesse fato
é que essa proposta não é só pra Silvio Santos.
Não é só ele que vai ter que mudar
e encarnar outro papel.
A proposta é pra nós também.
Eu, pessoalmente, tenho ainda resistência em ver essa aliança.
Ainda não é concreto pra mim
a construção do Anhangabaú da Felicidade
em parceria com ele e com o Grupo SS.
Mas topo a direção de Schiller
pra entrar em cena cada dia e vencer essa resistência.

E que cada vez mais a gente consiga deixar claro,
que essa história não é só a "pendenga entre Zé Celso e Silvio Santos",
como a encenação dos Sertões,
não era só sobre "uma guerra entre conselheiristas e republicanos,
acontecida em um longínquo povoado no sertão da Bahia…"

O que a luta pela ampliação dos 400m2 que uma Cia de Teatro,
que faz 50 anos em 2008,
ocupa num quarteirão do bairro do Bixiga,
tem a ver com você?

A delícia de espetáculos de teatro de estádio é pro gozo dos Oficinas?

Quantos filmes são realizados no Brasil e não são distribuídos?
Quantas salas Batman ocupou na estréia?
Quantas bandas não conseguem fazer shows?
Quantos teatros tem o público cada vez mais reduzido?
Quantos projetos recebem verbas de leis de incentivo?
Quantos não recebem?

Se liga maluco, Canudos tá aí na esquina…

Domingo, 21 de setembro - dia da árvore.

Ardor!

3 comentários:

ariadnebrazilha disse...

exatamente! camis vc ta foda!

Anônimo disse...

Foi do caralho pra gente também. Estive na estréia, dia 17, e voltei no dia 19 outra vez. Duas apresentações muito distintas, é verdade, mas não poderia dizer que uma tenha sido melhor que a outra. A estréia teve uma energia atômica rolando entre vocês, dava pra perceber. E no dia 19 foi aquela festa maravilhosa.

No último dia rolou que chorei muito na cena final, uma epifania completa. Estava tomado de afeto por aquele universo que vocês haviam criado, parecia uma revelação ou uma viagem de ayahuasca.

Certo é que quem se entrega nOs Bandidos não volta pro cotidiano ileso. Eu voltei alterado, meus amigos também.

Ouro pra vocês aí em SP, amo vocês!
Beijos e ardor,
Marcelo

Ariane disse...

Assisti dia 17. Voltei pra casa extasiada. O trabalho é muito bem feito, o texto ficou otimo. A peça é linda e faz pensar. de verdade. Parabéns e obrigada pelos momentos de troca. Ardor. Ariane

 
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