sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Oficina, 50

Escrito por Nelson de Sá, dia 28 de outubro, às 15h31

Daqui a pouco começa a festa barroca de aniversário do Oficina.

Depois de meses, voltei a ligar no domingo para o Zé. Estava na porta da 20ª seção, 251ª zona, no colégio da Pedroso de Moraes em que voto até hoje. Estava para anular o voto, minha primeira vez, e um bocado confuso. Era uma da tarde e o telefone acordou o Zé. Ele é parâmetro para mim, em qualquer coisa.

No caso, sabia que ele gostava de Gilberto Kassab, de quem fala desde a posse que o único defeito é não sair do armário, como os prefeitos de Berlim, Paris e, na época, Londres. E sabia que gostava muito de Eduardo Suplicy e, um pouco menos, de Marta. Sobretudo, ele gosta de Lula, como antes de Leonel Brizola.

Mais importante, nestes tempos, o Oficina tem patrocínio de todo lado.

Conversamos, ele falou por um lado, por outro, por um terceiro. Absolutamente racional e, mais importante para mim, capaz de ir além da dicotomia que faz o nosso cotidiano _ou pelo menos o meu próprio vício jornalístico, sempre correndo para identificar dois pólos em qualquer situação, como conflito teatral.

Não votei como ele. Fui anular, mas não sabia como e teclei "branco".

Ele nem tentou me demover, apenas falou o que pensava. Sempre foi assim. Eu me aproximei do Oficina, então sem existência imobiliária, sem teatro, depois de uma primeira divergência. Publiquei que o grupo tentaria então montar "Bacantes", mais uma vez, e ele respondeu com um artigo sem fim _e fascinante.

Acabei me juntando à trupe e ajudei a montar "As Boas", no Centro Cultural, quase duas décadas atrás, com Zé, Marcelo Drummond e Raul Cortez de Madame. Depois ajudei a montar "Ham-let" e não cheguei a estrear, mas ganhei o papel que represento até hoje, na minha fantasia. Eu sou Horácio, o amigo de Hamlet.

Hamlet que, para mim, é o Marcelo, o Zé e o Oficina, num só. É também o Pascoal, a Alleyona, a Denise Assunção. É também Bete Coelho e toda a família de "Cacilda", talvez a última encenação que acompanhei de perto, como Horário. Depois o Oficina iniciou outra de suas tantas vidas, com a viagem maravilhosa de "Os Sertões".

Já não consigo mais acompanhar passo a passo os caminhos do grupo. Em meio à demanda de trabalho, nestas eleições com crise, estou vendo "Os Bandidos" em prestações. Sexta-feira, assisti ao primeiro ato, que me fez lembrar "Cacilda". Domingo, assisti ao terceiro, que me trouxe memórias do final de "Ham-let".

Marcelo está bonito, como antes, e sereno. Confronta a força de Aury Porto, seu irmão na peça de Schiller. Sylvia Prado é a própria Cacilda. Vera Barreto Leite parece tomada por alguma entidade. A banda é parte integral da cena, como Zé tanto queria. O terreiro eletrônico, outro sonho antigo do diretor, está de pé.

Achei eu mesmo em cena, em uma velha gravação com Marcelo a ensinar guerrilha urbana. Sou um dos "bandidos", não tem jeito.

2 comentários:

franklin albuquerque disse...

que viagem nelson, ontem estava falando com um amigo que vai encenar "AS CRIADAS" ou "AS BOAS" aqui em salvador, que eu tinha visto a montagem do zé e vi no último dia de apresentação, assim como vi o "HAMLET" tres vezes e quase tudo até agora...e via voce também com os dois faroletes brilhando e as vezes tentava advinhar o que voce estava enxergando na tentativa de aprender o que eu ainda não sabia...

Anônimo disse...

E mais porra para germinar mais amor nesse mundo de concreto e sutilezas!

 
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